Mais um texto de questão pública....
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O calvário da saúde pública
Aline Ferreira
Logo pela manhã o sol começa aparecer, mas as pessoas já formam uma enorme fila em frente ao Centro de Saúde Jardim Santa Mônica na esperança do atendimento médico. Maria Gonçalvez, moradora do bairro Matão, chegou a procurar 3 vezes o atendimento nesta semana para seu filho Raul Lucio da Silva, 12 anos, com febre alta não consegue atendimento por falta de profissional no local. “Não sei o que faço, meu filho está que não para em pé e com essa febre, fazer o que tenho que ficar vindo aqui . Sou pobre e não tenho convênio”, desabafa.
A dona-de-casa Maria Almeida, grávida de 7 meses afirma, “Antes quando tinha meu convênio fazia muitos exames de pré-natal, mas aqui é muito difícil, ele quase nem pedem e muda muito de médico. O atendimento aqui é coisa de 5 minutos sabe. Acho que deve ser porque tem muita gente para ser atendida.”
A procura de assistência médica e odontológica na rede pública, com o migramento de cidades das regiões próximas de Campinas criou até uma categoria profissional: a dos guardadores de lugar na fila. O aposentado J . K. B, 69 anos, assume que consegue um pouco de dinheiro para seu orçamento do mês com os “pedágios” para ficar na fila horas guardando lugares de estranhos. “Sempre que posso venho pra cá junto com o sol e quando tenho sorte pego o primeiro lugar na fila e garanto meu ganha pão”, reconhece.
Em Campinas são 47 centros de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), para atenderem 600 mil pessoas que equivale a 60% da população. Mas é claro que não podemos esquecer que existe uma demanda grande de pacientes de outras cidades. Os centros de saúde de Campinas fornecem diferenciados atendimentos, desde vacinação, tratamentos odontológicos até encaminhamentos de casos graves para os principais hospitais da cidade, o Mário Gatti, a PUCC, a Unicamp e todos credenciados do SUS.
A falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde correspondem ao transtorno de atrasos nas consultas, e exames que em média deveriam levar de 15 a 20 dias chegam a levar mais de meses para serem agendados, por causa de burocracias exigidas pelo Estado. A Coordenadora do Centro de Saúde do Jardim Santa Mônica, Denise de Oliveira Cornachioni, declara que esta falta de funcionários é resultado da suspensão do concurso público em 2004, que está em processo na justiça por fraudes.
Segundo Cornachioni, a Secretaria Municipal de Saúde fez um processo seletivo para contratação emergencial, mas poucos médicos se interessaram pela vaga, apesar do salário de R$ 2.953,24 por 36 horas semanais. “É um problema socioeconômico, porque muitos não precisam do atendimento, muitas vezes possuidor de convênio é atendido aqui gerando um descontrole na demanda de atendimentos aqueles que realmente precisam”, afirma Cornachioni. A população conta também com atendimento em casa para aqueles que não tem condições de locomoção e com direcionamento maior aos idosos. Existe uma relação dos idosos de cada Centro de Saúde de determinado bairro, onde são enviados 4 ou mais profissionais da área da saúde por bairro em dias certos da semana ao mês. Mas geram problemas na população. A enfermeira Marta Patrícia Spanzapan, já sofreu por cansaço de trabalho excessivo e precisou tirar alguns dias em casa. “Existe um grande problema de mudança continua de médicos, enfermeiros e outros funcionários por causa de licença trabalhista (LTC). Que muitas vezes acaba em transferência de postos ou afastamentos maiores” conta.
O sistema de saúde em Campinas levou a um processo progressivo de descentralização do planejamento e gestão da saúde para áreas com cerca de 200.000 habitantes, que no município iniciou-se com a atenção básica, sendo seguido pelos serviços secundários próprios e posteriormente pelos serviços conveniados / contratados. O diretor de Saúde de Campinas, Roberto Mardem Faria, fala: “Atualmente, a rede básica conta com 812 médicos, somam 685 funcionários uma oferta ainda inferior às necessidades que acarreta maior tempo de espera e algumas filas”, reconhece. Mas completa o pensamento: “Existem muitos problemas na saúde pública, mas o atendimento esta sendo reforçado e melhor trabalhado para dar uma qualidade de vida a população”.
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