Eu fiz magistério no colegial, mas não segui como professora. Percebi que não tinha vocação para lecionar, apesar de amar as crianças.
Também na época de faculdade, resolvi fazer uma pauta sobre o ensino fundamental na vida rural, nossa foi uma aventura para vida toda. Lembro que quando ficava na pensão em Piracicaba para estudar, porque morava em Campinas, tive que acordar as 4 da manhã, eu e mais uma amiga para pegar o ônibus que leva os professores e trabalhadores rurais em meio os canaviais.
Senti medo, senti coisa boas e ruins no percusso que leva mais de 2 horas de viagem, mesmo sendo dentro das emediações de Piracicaba. Era muita pobresa dentro do ônibus, já me preparava para o que estava por vir. Chegando lá, crianças alegres, saltitantes logo cedo, as salas eram simples e velhas. As professoras que tinham maiores condições compravam lápis e cadernos. Isso é uma realidade esquecida em meio as plantações, tem crianças que nunca param em escolas, porque os pais mudam de canaviais. Sendo assim, dificultam a alfabetização. Sei que esse dia que passei lá, me fez perceber o quanto temos muito e outros tão pequeninos já não têm nada. Sem falar no descaso da secretaria da educação. Apenas, pude escrever, relatar os fatos, passar o dia com crianças que mesmo em situações como essas são felizes e me fez pensar diferente sobre agradecimento.
Bom segue ai mais um texto meu:
PS : Esse texto foi feito mais ou menos em 2005, 2006, alguns funcionários mudaram de cargos.
Ensino é desafio na zona rural
Aline Ferreira
As escolas rurais e urbanas se situam em espaços geográficos diferentes, porém os problemas que enfrentam na atualidade são muito semelhantes. No campo, entretanto, alguns são agravados em função da distância, da precariedade das instalações de muitas unidades e da condição de vida das famílias dos alunos.
Situada no bairro de Anhumas, a Escola Estadual Felipe Cardoso, mantida pelo Governo do Estado, é um exemplo do desafio que é oferecer ensino na zona rural. A unidade enfrenta problemas com transporte, espaço físico e corpo docente. A qualidade da merenda e integração da comunidade, entretanto, são algumas compensações.
Com apenas cinco salas de aula, a escola tem dificuldades para garantir o funcionamento de todas as séries. A alternativa, segundo o supervisor de Ensino Luis Carlos Marconi, é a utilização da classe multiseriada, onde são atendidos alunos de diferentes séries. "A professora sentiu dificuldades no começo, mas eu levei na HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico) uma turma da oficina pedagógica, que tem um especialista em cada área. Eles trouxeram idéias, materiais e deram o suporte necessário", observa Marconi.
Sandra Regina Moral, professora da classe multiseriada, diz que essa sala é a única que existe em Piracicaba. "Quando escolhi na Delegacia de Ensino disseram que era uma 1ª série. Talvez pelo fato da 2ª série estar muito cheia, foram colocando os alunos na minha sala. Trabalhei alfabetização com todos, mesmo porque muitos da 2ª série tinham dificuldades nisso também", relata.
Outra dificuldade enfrentada pelos professores das escolas rurais é o acesso à Diretoria de Ensino. "Nas escolas da cidade este contato fica mais fácil e freqüente, não sendo necessário a intermediação do supervisor", observa Marconi.
A substituição de docentes que faltam também fica bastante prejudicada, pois não é fácil encontrar eventuais (professores substitutos) que se disponham a ir até Anhumas para dar poucas aulas, já que o tempo de viagem até a unidade é de uma hora e meia. A escola só possui um eventual e quando não é possível a substituição, a alternativa é apelar para atividades dirigidas, como vídeo e jogos em sala ou na quadra de esportes.
Em virtude das dificuldades econômicas das famílias dos alunos, muitos também não têm condições de comprar o material escolar. Segundo a diretora substituta, Ligia Maria Gonsales de Poletto, as pessoas são muito carentes e muitos acham supérfluo gastar com material. "A escola oferece alguma coisa, mas não é suficiente para todos", afirma. Ela também lamenta o fato de existirem famílias que recebem o bolsa escola, mas mesmo assim não investem no ensino dos filhos.
Comunidade
Em relação à participação da comunidade na vida escolar, as opiniões são divergentes. Enquanto alguns acreditam que seja maior na zona rural do que na cidade, outros observam que não há diferença.
Ligia acredita que não há diferença e lamenta a ausência justamente dos pais de alunos que apresentam mais problemas de rendimento e disciplina. "Os pais daqueles alunos com dificuldades de aprendizagem e que faltam muito não comparecem nas reuniões, tanto aqui, quanto numa escola urbana", garante.
Já para a professora Sandra Regina, na zona rural o interesse dos pais pela vida escolar de seus filhos é menor. "Tenho aluno de quarta série que não sabe ler e escrever, falta muito e o pai não quer saber", enfatiza. Ela diz ainda que na Felipe Cardoso "os alunos faltam demais", muitos em função de terem que ajudar os pais na roça.
O supervisor Marconi destaca como aspecto positivo da escola de Anhumas o fato de possuir uma horta, cultivada pelos funcionários da Associação de Pais e Mestres (APM), com auxílio dos alunos de oitava série. "Na zona rural a merenda às vezes é mais nutritiva, por que são incorporados alimentos colhidos diretamente de hortas da comunidade ou da própria escola. As merendeiras também capricham mais, já que estão cozinhando para os seus filhos, que também estudam ali", explica.
Manter o projeto, entretanto, não é fácil, pois segundo a diretora Ligia, no caso de Anhumas houve uma diminuição da participação dos alunos este ano. "No ano passado o projeto deu muito certo, mas agora a horta está meio desativada. Os alunos não estão participando do cultivo e dois funcionários da APM é que estão tendo que cuidar de tudo", conta.
Transporte
Além de todas estas dificuldades, muitos alunos ainda têm uma adicional: como chegar à escola? Muitas famílias moram distante das unidades, o que obriga seus filhos a fazerem verdadeiras viagens, quase sempre em estradas de terra e mal cuidadas, para poder estudar. Com isso, têm que acordar muito cedo, o que prejudica o seu rendimento.
A responsabilidade pelo transporte dos alunos, segundo Marconi, é da Prefeitura. Ele diz que o município deveria construir mais prédios, mas quando não faz isso, é obrigado a oferecer ônibus para a unidade mais próxima.
A informação é questionada pelo secretário Municipal de Educação de Piracicaba, Leopoldo Belmonte Fernandez, que garante: o transporte de alunos é responsabilidade do Governo do Estado. "Só que eles não estão fazendo e para não deixar crianças sem aulas o município está transportando, mas é uma irresponsabilidade do Estado", enfatiza. Segundo ele, em Piracicaba o município gasta cerca de R$ 3 milhões por ano com o serviço, recebendo repasse da ordem de apenas R$ 800 mil do Estado.
O repasse é confirmado pelo dirigente regional de Ensino, Oldack Chaves. Ele ressalta, entretanto, que os valores são outros. Segundo informações do setor de finanças da Diretoria de Ensino, em Piracicaba, 5.405 crianças são transportadas, o que resulta em um gasto total de R$ 3.218.329,00. Deste valor, o Estado repassa R$ 972.160,00, conforme convênio assinado. Chaves também salienta que o Estado garante o transporte de mais 885 alunos do ensino médio e critica a Prefeitura de Piracicaba por ser a única a não querer assumir esta atividade.
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